Informes introdutórios:
Não estamos diante de um texto cronológico,
Uma narrativa lógica, quando consideramos o anúncio da conquista feito no capítulo 2.
Nos v 2-6 Javé apresenta suas recomendações a Josué,
Nos v 6-7, comunicação de Josué aos sacerdotes,
Todos se empenham na execução das ordens, até a caída de Jericó (v. 8-21),
Realização do pacto com Raab (v. 22-25),
Ḥêrem חֵרֶם : trata-se da uma ideia indicando que algo deveria ser colocado de lado: a) na guerra santa animais, humanos tornavam-se propriedade da divindade vencedora; b) propriedades materiais eram oferendadas no templo. Segundo Dt 20, o anátema somente era aplicado em relaçao às cidades cananeias (vv 16.18).
Maldição: (v.26-27): As palavras são adaptadas de 1Rs 16,34. O verso 27 é um complemento vindo de 1,5: cujo a fama se divulgou por toda a terra. Uma forma de antecipar 9,1: “ao ouvirem tais coisas, todos os reis que estavam aquém do Jordao...”.
Leitura do texto:
6 Uma celebração ao redor de Jericó - 1. Jericó estava fechada, estava bloqueada por causa dos filhos de Israel . Nenhuma pessoa podia entrar, nem sair. 2. Javé disse para Josué: ˝Veja , dei, em suas mãos Jericó seu rei e seus valentes guerreiros. 3. Você vai cercar a cidade com todos os homens de guerra; cerquem a cidade uma vez. Assim, você vai fazer durante seis dias. 4. Sete sacerdotes vão levar sete trombetas de chifres de carneiros á frente da Arca. No sétimo dia, cerquem a cidade por sete vezes e os sacerdotes tocarão as trombetas. 5. E acontecerá que, quando ouvirem um toque prolongado da trombeta do chifre do carneiro, todo o povo vai dar um grande grito de guerra, o muro da cidade vai desmoronar e o povo vai atacar, cada um do seu lugar˝. 6. Josué, filho de Nun, convocou os sacerdotes e disse para eles: ˝Carreguem a Arca da Aliança e sete sacerdotes com sete trombetas de chifre de carneiro irão à frente dela˝. 7. Ele disse ao povo: ˝Passem e caminhem ao redor da cidade e os guerreiros vão andar à frente da Arca de Javé˝. 8. E aconteceu como Josué havia dito ao povo. Sete sacerdotes levavam sete trombetas de chifres de carneiro, diante de Javé, passaram e tocaram as trombetas e a Arca da Aliança de Javé vinha depois deles. 9. Os guerreiros caminhavam na frente dos sacerdotes que tocavam as trombetas e, abrindo fileiras, o povo seguia atrás da Arca marchando ao som das trombetas. 10. E Josué deu a seguinte ordem ao povo: ˝Vocês não vão gritar e ninguém vai ouvir a sua voz. Nem uma só palavra sairá da boca de vocês, até o dia em que eu direi a vocês: Gritem! Neste momento, o grito de guerra˝. 11. A Arca de Javé contornou a cidade uma vez e voltaram para o acampamento, e ali passaram a noite. 12. Josué levantou-se muito cedo e os sacerdotes carregaram a Arca de Javé. 13. Os sete sacerdotes, que levavam sete trombetas de chifres de carneiro, seguiam à frente da Arca de Javé, caminhando e tocando as trombetas. Os homens de guerra caminhavam diante deles e os que vinham depois, seguiam a Arca de Javé; enquanto marchavam tocavam sem parar as trombetas. 14. No segundo dia, cercaram a cidade uma vez e voltaram ao acampamento. Fizeram o mesmo durante seis dias. 15. No sétimo dia, eles levantaram bem de madrugada, ao romper da aurora, e cercaram a cidade. Somente neste dia, cercaram a cidade sete vezes e os sacerdotes tocaram as trombetas, 16. pela sétima vez. Josué disse para o povo: ˝Gritem o grito de guerra! Porque Javé dá para vocês esta cidade˝. 17. A cidade vai ser considerada ao anátema em honra a Javé, ela e tudo o que nela existe. Somente Raab, a prostituta, terá a vida salva e, com ela, tudo o que estiver em sua casa, porque ela escondeu os mensageiros que tínhamos enviado. 18. Somente vocês serão preservados das condenações ao anátema; não mantenham nem peguem nada que seja condenado ao anátema, movidos pela cobiça, pois isso traria a condenação e a destruição ao acampamento de Israel. 19. Toda a prata e o ouro, todos os utensílios de bronze e de ferro serão consagrados a Javé; eles pertencerão ao tesouro de Javé.
Tomada de Jericó - 20. O povo gritou o grande grito de guerra e tocaram as trombetas. No momento em que o povo escutou o som das trombetas, deu um grande grito, a muralha desmoronou e o povo subiu para a cidade, cada um de seu lugar, e tomaram a cidade. 21. Eles julgaram condenado ao anátema tudo o que existia dentro da cidade, passando-os ao fio da espada: homens e mulheres, jovens e velhos, bois, pequenos animais e os jumentos. 22. Josué disse aos dois homens que tinham inspecionado a terra: ˝Vão à casa da mulher, a prostituta, e façam sair de lá a mulher e tudo o que ela tem, conforme o acordo que fizemos com ela˝. 23. Os homens foram e fizeram sair de casa Raab com seu pai, sua mãe, seus irmãos e tudo o que lhe pertencia. Fizeram sair todos os que pertenciam a sua família e os instalaram fora do acampamento de Israel. 24. Eles queimaram a cidade e tudo o que nela havia, menos a prata, o ouro e todos os utensílios de bronze e ferro que foram levados para o tesouro da casa de Javé.
Josué cumpre o pacto com Raab - 25. E Josué deixou com vida Raab, a prostituta, bem como a casa de seu pai e tudo o que a ela pertencia, permanecendo junto a Israel até os dias de hoje, porque ela escondeu os mensageiros que Josué tinha enviado espionar Jericó. 26. Naqueles dias, Josué fez este juramento: ˝Maldito seja, diante de Javé, o homem que se levantar para reconstruir esta cidade de Jericó! Estabelecerá os seus alicerces sobre seu primogênito, e as suas portas, sobre seu caçula!˝. 27. E Javé esteve com Josué e sua fama se espalhou por toda a terra.
Sinalizando o texto:
a) Elementos litúrgicos:
A arca (vv. 4.8)
Sacerdotes,
Grito (vv. 10,20)
Procissão silenciosa,
A expressão כל "kol = tudo, toda" (6,3.5.21.23.25)
Demasiada insistência no número sete: sacerdotes (vv. 4,6,7), trombetas de chifre (vv. 4.6.8.9.13), sete voltas ao redor da cidade (vv. 4,8,13,15,16)
Aspectos beligerantes: ˝Veja, dei, em suas mãos Jericó seu rei e seus valentes guerreiros” (Js 6,2); grito de guerra – algo velado – “um grande grito de guerra”(v. 5, “deu um grande grito, a muralha desmoronou” (v. 20).
Incongruência literária: Jericó ruiu (6,20), mas a casa de Raab que se apoiava nas muralhas permaneceu de pé (6,22; 2,15).
Informes arqueológicos:
Jericó é hoje identificado como Tell es-Sultan (ver fotos), pequena colina de 307 metros por 161. A região foi escavada por três importantes escolas de arqueologia: 1907-1909, E. Sellin e K. Watzinger; 1930-1936, J. Garstang; 1952-1958, K. Kenyon.
O lugar foi habitado há mais de 7 mil anos a.C. Partindo do período neolítico - última divisão da Idade da Pedra, marcado pelo nascimento da agricultura e pela domesticação dos animais, na região encontramos sinais de habitações e sedentarismo. Nessa época era desconhecido o manufaturação da cerâmica. Passando pelos períodos do bronze antigo (3100-2200), ao bronze médio (2200 – 1550), a arqueologia aponta a existência de assentamentos na região de Jericó. Em meados do bronze recente (1550 – 1200), por ocasião de um forte terremoto, a cidade passou ao mais puro estado de abandono. Não há dúvidas de que a cidade exercera importante papel no cenário comercial por estar localizada à beira do rio Jordão e de grandes nascentes. Um verdadeiro oásis. A partir de 1600 a.C, o apogeu de Jericó desaparecera.
A conquista da cidade é uma narrativa de cunho sacerdotal com forte conotação litúrgica, possivelmente nascida de antigas cerimônias feitas ao redor do santuário de Guilgal. Para isso, é oportuno perceber a insistência pelo número sete (vv. 4,8,13,15,16), sacerdotes (vv.4,6,7), trombetas (vv. 4,6,8,9,13,13), seguidores da arca (vv.4, 8) e o forte “grito” do povo (vv.10,20).
Guilgal surge como marco de um antigo santuário localizado nas proximidades de Jericó. Sua etimologia pode ser compreendida como sendo um círculo (de pedra), possivelmente utilizado para ritual religioso. O lugar é indicado como sendo base das operações de Josué, onde é erigido um círculo de 12 pedras (Js 4,19), sendo o local escolhido para a circuncisão dos israelitas ( Js 5,9).
Os versículos (26-27) aparentam ser um pequeno fragmento textual somado à narrativa. Amaldiçoar será um ato típico dos sacerdotes e levitas, encarregados pelos conteúdos litúrgicos no período pós-exílio (cf. Dt 18,1; 27,14-26).
Uma mensagem teológica acentua que Javé esteve todo o tempo ao lado de Josué; Josué não se desviou um momento dos ditos de Javé, cuja fama se espalha por toda a terra.
(imagens de Jericó).
Conclusão:
Em Canaã, Raab é uma investigadora da queda das estruturas administrativas opressoras da cidade de Jericó e recebe a vantagem de integrar o novo sistema social aos filhos de Israel. Na posse da terra (esconde, mente, pactua) com as autoridades e o poder. Da condição de marginal faz um espaço de novidade: contra a exclusão.
Uma leitura Josiânica,
Terra, Arca e Javé: tema central. Javé salva
Delimitação das fronteiras
Uma mulher divide a cena com Josué; ele não é o único.
Referência ao nome Jordão, 50 vezes (cf. CARDOSO, p. 6).
Bibliografia básica:
BROWN, R. E; FITZMYER, J. A.; MURPHY, R. E. Novo comentário bíblico São Jerônimo. São Paulo: Paulus, 2007.
RÖMER, T; MACCHI, J. D; NIHAN, C. Antigo Testamento: história, escritura e teologia. São Paulo, Loyola, 2010.
RÖMER, T. A chamada história deuteronomista: introdução sociológica, histórica e literária. Petrópolis, Vozes, 2005.
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Notas/Josué – ITESP – Uso Exclusivo – Mar/2016
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