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A história que iremos estudar nos livros históricos [1]

Atualizado: 22 de mar. de 2022


Foto: Arad, altar e complexo para sacrifícios . Crédito: María Luján.

A bíblia, tal como nós a conhecemos hoje, chegou até nós reinterpretada e é interpretada todos os dias, por nós. Vale ressaltar que o AT é um livro de história. Afinal, Deus, sujeito central de todos os textos, é uma divindade que só existe, só pode ser conhecido na história do povo de Israel. É um erro querer conhecê-lo longe de nossa existência, de nossas vidas. O Deus da Bíblia não se apresenta como uma divindade capaz de realizar mágica ou proezas “pirotécnicas” só para se impor diante de seus súditos. Muito menos, tal divindade se encontra num círculo central rodeados de outras e outras pequenas e singelas divindades.

Os textos do AT como no NT revelam um Deus encarnado na vida, na história do povo por ele escolhido. Ex: Dt 29,21-27; Jo 1,1-5. Podemos concluir que a história está na raiz da bíblia.


Os livros históricos:

Há quatro grupos de textos que compõem a historiografia de Israel [2].

Vejamos:

· Duas histórias gerais:

1) História deuteronomista (Js, Jz, 1 e 2 Sm e 1 e 2 Rs)

2) História do cronista (1 e 2 Cr, Esd, Nm).


· Duas histórias monográficas:

1) 1 e 2 Mc


· Quatro histórias exemplares:

1) Tb, Jt, Est, Rt.


· Cinco visões históricas apocalípticas:

1) Dn


O conceito de história pode ser encontrado em outras partes bíblicas. No Pentateuco há elementos históricos. Nele encontramos códigos legais, instituições civis e religiosas de Israel pelas escolas, assim chamadas, “javista, eloísta e sacerdotal”.

O conceito de história entra também nos livros proféticos. Assíria (883-612). Neste período encontramos as ações proféticas de Amós e Oséias (Norte); Isaías, Miquéias e Sofonias (640). Pode-se dizer que a profecia, nada mais é, do que uma leitura profética da história.

A historiografia está presente nos livros sapienciais. Vejamos: Eclo 44-50; Sb 10-19. Presente nos salmos: 136.

Enfim, estamos diante de uma historiografia interpelante. Não vamos estudar uma história incólume, incolor, mas uma historiografia narrada e que nos interpela diante dos fatos. Na história da bíblia podemos aplicar alguns critérios metodológicos.


a) Confessional:

Esta história foi escrita mediante a um Deus que se revelou a Israel. Os historiadores, nos distintos livros, sabem e crêem que tudo vem de Adonai e tudo caminha para ele/Deus.

Para quem olhou os fatos de fora, tudo não passava de uma saída/fuga de um projeto tirânico passado no Egito. Para os autores “históricos deuteronomistas” tudo aconteceu por obra e desejo de YHWH. O fato mais exemplar dessa história é o Êxodo. O Êxodo foi a maior e melhor experiência narrada de um povo que se encontra com sua divindade. O Êxodo é a chave histórica para se compreender, não somente Deus, mas toda a bíblia.

Para os autores sagrados, os fatos positivos dessa história serão escritos como benção, aprovação de YHWH. Mas por ser um Deus vivo (Ex 3) ele também surgirá como uma divindade que castiga diante dos pecados e infidelidades cometidas por seu povo escolhido. A prova maior está na destruição da Samaria (722 a.C) e de Jerusalém (587 a.C.).


b) Querigmática:

O uso da expressão não é acidental. Do grego κήρυγμα (anúncio, proclamação) de uma fé. A história de Israel, contida nos livros históricos, foi uma tentativa vitoriosa de narrar que Deus manifestou-se em favor de um povo. Ela foi escrita a partir da fé. Existe história escrita a partir da sociologia, da antropologia. Israel inovou ao escrever sua história e expor um credo diante de seu Deus. O “credo bíblico” está internamente integrado nos fatos históricos.

O Deus na Bíblia não se faz presente, manifestado por meios dos sonhos, revelações, mas só, e somente na história. Histórias lidas por sábios, profetas e profetizas (Dt 26,5-9; Sl 78,67-71. No Nt (1 Cor 15,3-5).


c) Interpelante:

As histórias exemplares: Rute, Judite, Moisés, Davi são atributos legados pelos historiadores bíblicos. Mais do que conhecer, descobrir a prática desses expoentes é preciso imitá-los. Eis o grau de importância no conjunto dos livros históricos. Os personagens não surgem como meros informantes, mas como um chamado, uma postulação à lei e a optar pelo Deus da justiça.


d) Profética:

Os livros que em nosso “Canon” recebem o titulo de “livros históricos” na bíblia hebraica são chamados de livros proféticos. Os profetas foram os teólogos, catequistas da história. Pessoas sábias ao ler os sinais dos tempos (DV 2). “O Senhor Deus não faz coisas sem revelar seu segredo a seus servos, os profetas” (Am 3,7).


e) Escatológica:

Para os antigos a história reflete fatos cíclicos na vida de um povo. A história é uma história cíclica, que acontece tendo como eixo inicial Deus. A história parte de Deus e caminha ao encontro do definitivo.

A concepção histórica de Israel tem como eixo o fato histórico do Êxodo. Eis um elemento fundante no estudo da história de Israel. O povo que sai do Egito caminha para a terra prometida através de uma peregrinação no deserto. Essa história de Israel é um êxodo linear, espiral: êxodo no Egito, Êxodo babilônico, Êxodo de Cristo (cf. Lc 1,46, Magnificat).


f) salvífica:

A bíblia tem um caráter salvífico (DV 11).

  • Os livros históricos não são apenas relatos, mas história da salvação;

  • Não são só mensagem experimentada, mas notícia vivida e celebrada;

  • São histórias das grandes e pequenas intervenções de Deus em favor de seu povo.

As intervenções não são estanques ou tocam em algum ponto final. Elas sempre acenam outras intervenções. São dialéticas no esquema: “promessa-cumprimento”. A primeira história anuncia a vinda do Senhor dos tempos. A segunda, NT, anuncia sua segunda vinda, a plenitude escatológica.


[2] Cf. LAMADRID, Antonio González. As tradições históricas de Israel.

Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1999, p.9.

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